sábado, 4 de abril de 2009

A ESCOLA E OS NOVOS TEMPOS




Durante vinte anos lecionei na Faculdade de Direito do Vale do Rio Doce-FADIVALE, na cidade de Governador Valadares, MG, me afastando neste ano de 2009 por um cansaço natural da engrenagem humana, quer dizer, olhos lendo com dificuldade, garganta exaurida, certificado de garantia da existência humana se aproximando do vencimento e uma necessidade premente de ler e refletir sobre a vida, família, amigos, este país complicado, meus dois bons filhos que saíram muito cedo em busca de seu caminho e eu não os acompanhei como deveria na infância e adolescência, por trabalhar pela manhã e a tarde na advocacia e a noite lecionando.
Esta missão sagrada, mais do que profissão, pois sempre pensei que para lecionar deve-se ter paixão, amar profundamente o ser humano, mesmo que em certas horas tenha gana de odiá-lo, pois você tem à sua frente pessoas, grande parte em desenvolvimento, com suas frustrações, certezas e incertezas, problemas pessoais, amorosos, financeiros, alegrias e tristezas, enfim, tudo que diz respeito à condição humana e quem leciona está contribuindo na formação de corações e mentes e que um dia estarão em suas diversas atividades em contato com outras pessoas, transmitindo-lhes com correção ou não, algo que apreenderam nas salas de aula.
Faço estas colocações iniciais pois estou sentindo uma mudança para pior nas relações escolares como um todo, não dividindo responsabilidades e nem pesando a participação de cada um neste processo.Todos são responsáveis, para o bem ou para o mau.
Depois do aparecimento desta coisa aterradora e maravilhosa, pois não tenho competência para discutir sobre tal, denominada informática que permite a mim, pessoa pré-computador, infinitas possibilidades tais como faço agora, expondo o que penso ao mundo, o comportamento de quem tenta ensinar e de quem tenta aprender virou de “pernas para o ar”.
Lecionar hoje está chato e assistir aulas, está mais chato ainda. Calma, vou tentar explicar.
Os alunos cursando faculdade a maioria entre 20 a 26 anos de idade, criados dentro de um computador, com a comunicação instantânea, a internet abrindo-lhes o mundo, vídeo-games, celular, IPod e sei lá mais o que, está ficando cada vez mais difícil fixar-lhes a atenção, trazendo ele ou não estes aparelhinhos para dentro da sala de aula. Faço tal afirmação porque lecionei o antes e o depois do advento da informática.
Como grande parte das Escolas Superiores deste imenso Brasil, sejam públicas ou particulares, é deficientes em infra-estrutura, não tendo ar condicionado nas salas de aula em um país tropical, quadros onde você escreve com giz ou pincel, o visual é retroprojetor, pois o som em sua maioria é na base da garganta, disputando a voz do professor com os ventiladores e a conversa dos alunos que já se dispersaram por não estarem ouvindo direito e quem sabe vendo pior ainda. Além da base escolar deficiente, falta do costume da leitura, um número monstruoso de cursos superiores e um vestibular falido onde há mais vagas do que candidatos. Não entrarei por agora na discussão destes fatos.
Penso eu que, além da mudança na base do ensino, caso as escolas não transformem as salas de aula em um imenso vídeo-game, com quadros digitais, notebooks em todas as carteiras, datashow e professores que realmente dominem a matéria que lecionam, o caos está instalado.
Este negócio que eu disse acima, é para chegar em um fato que ao meu entender está demonstrando tudo o que disse acima.0 grande desinteresse do aluno com a escola e as aulas.
Há uns dois anos passados vi grupos de estudantes em bares na maior festa com camisas escritas: “Faltam 365 dias para terminar”. Achava um tempo um pouco elástico para começarem a comemorar o final do curso. Mas, não sejamos tão rabujentos. São jovens, estão curtindo.
No início deste mês de março, uma turma senão me engano, do curso de psicologia, tomava umas biritas, e põe birita nisto, em um butiquim e comemorava com as camisetas escritas: “Faltam 1.000(mil) dias para a formatura”; Credo!!! Mil dias, faltam somente noventa e cinco dias para três anos em um curso de quatro.
Este comportamento que aparentemente é coisa de jovem, para mim eu vejo como um recado. “Estamos de saco cheio”. Uma pessoa que tão logo se matricula, só pensa naquilo, quer dizer, sair da escola o mais rápido possível, cada dia que passa lá dentro é uma tortura.
Em sendo torturado, estes alunos tendem a se insurgir cada vez mais contra o sistema ultrapassado de ensinar, não ficando em sala de aula, ou se ficarem, estarão conversando, trocando mensagens pelo celular, enviando emails, fazendo joguinhos ou vendo filmes e novelas pela TV, pois o celular hoje além deste monte de recursos, também fala. Quem viver, verá.




4 comentários:

  1. Professor Danilo,
    Acompanhei à distância e em nossos encontros alguns de seus questionamentos. Você seguiu os passos de seu avô paterno,de sua mãe, professora Conceiçao Pimenta dedicada mestra do Grupo Escolar Nelson de Sena, onde todos estudamos. Suas reflexões são extremamente pertinentes. Além do fato de estarmos em um século no qual as gerações vão diminuindo o tempo de diferença entre elas, o mundo burocrático deste país não evolui juntamente com o mundo social. Vale, porém ressaltar, que falta ao grupo familiar atual rever os seus conceitos. O que é passado pela família? Quais os valores em que acreditam? O que buscam? Quando se tem um norte a trilhar, o ensinamento é sempre buscado. Há de se ver nos bons alunos que você ajudou a ver o mundo do conhecimento.
    Forte abraço,
    Mary Pimenta

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  2. Meu querido e admirado professor Danilo,
    Primeiramente quero parabenizá-lo pelo blog e também pedir licença para assinar em baixo neste artigo que reflete o retrato real de nossa educação. Não sei se irá recordar quando há alguns anos comentei que a tendência era piorar o nível do alunado que iríamos receber dentro de no máximo 5 anos. Essa "pedra cantada" por volta de 2002 se faz presente. Como educadora há 32 anos me sinto indignada diante de minha impotência.Por mais que eu busque algum tipo de metodologia para levar nossos educandos a entenderem o valor da educação me vejo falando no deserto. Não temos escolas com infraestrutura (parece que com a nova ortografia a palavra perdeu o hífen) capaz de competir com o mundo além de nossos pobres muros. Vivemos a era das síndromes dentre elas a SPA - síndrome do pensamento acelerado - há uma imensidão de informações chegando aos nossos jovens numa velocidade incomensurável e estes por sua vez não conseguem processar essas informações para transformá-las em conhecimento.Isto sem contar com uma educação básica mentirosa, repleta de artifícios para fazer com que nossos alunos não sejam reprovados e avancem para as séries seguintes sem o mínimo necessário de aprendizado. É triste deparar em pleno séc.XXI com um aluno no 9º ano (antiga 8ª série do ensino fundamental)sem saber ler, juntando apenas as sílabas, ou seja, um analfabeto funcional.Mais caótico ainda é encontrar, com frequencia, acadêmicos já no 10º período, às portas da formatura, sem saber sequer redigir um requerimento.O governo sempre apresenta um modelo educacional importado a ser implantado ignorando a nossa própria realidade. Instalam antenas de televisão em escolas que não possuem sequer um teto que aguente a antena ou que pelo menos proteja da chuva ou do sol. Instalam computadores e os mantêm desligados já que não há técnicos suficientes para capacitar professores ou simplesmente ligá-los.Medidas essas com um único intuito, apresentá-las em campanhas eleitoreiras.
    Fico feliz por sua aposentadoria, por saber que está gozando de um merecido descanso,mas sinto muito pelos jovens que não terão a oportunidade de conviver e aprender com um verdadeiro mestre. Me sinto ainda mais orgulhosa por ter convivido, aprendido e continuar aprendendo com o senhor e perceber que sua aposentadoria se transformou em uma nova etapa, o ingresso neste mundo virtual tão fantástico.Parabéns mais uma vez pelos artigos, pelo blog e principalmente por ser como é.
    Saudades ternas
    Abraços carinhosos de sua eterna admiradora
    Ariadne lana Xavier

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  3. Meu mestre!!!!
    mariana pimenta

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